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sábado, 13 de agosto de 2011

7

Sem saída...

Acordei sobressaltado com um filete de sol se esquivando da cortina e pairando sobre minha fronte. Meu braço instintivamente buscou alguém ao lado, mas só encontrou um lençol mal dobrado. Fiquei surpreso por ela já estar de pé tão cedo no domingo, pois toda mulher gosta de dar aquela esticadinha na dormida, e como o trabalho já a obrigava a acordar cedo na semana, restava o dia de descanso para trazer o amanhecer despreocupado sob o edredon.
Levantei com aquela cara de coador de café retorcido, com o rosto marcado e o cabelo digno de um rei da selva, encontrei-a na cozinha, ensimesmada em meio a uma xícara de cereal; abracei-a e me senti quase uma alma penada. Nenhum retorno, nenhum esboço de alegria. Aliás, uma alma penada ao menos causaria um calafrio na espinha, só senti aquela raiva sutil disfarçada de indiferença.
Instintivamente, comecei a procurar na memória as datas importantes: aniversário dela, de namoro, de casamento, tudo checado... Fui para os compromissos do dia anterior e cheguei até a cogitar ter esquecido de pegar a roupa na lavanderia. Me rendi.
-Amor, o que houve?
-Nada...
Mulheres, por favor, vocês não sabem como é agonizante quando dizem esse nada que a gente sabe que significa algo, mas não imagina o quê. Não somos seres transcedentais e intuitivos como vocês, resolvemos as coisas com preto no branco, no verbo ou na porrada, sem margens a muitas interpretações. Eu, naturalmente, comecei a imaginar mais além... Na dúvida, nem me defendo, sempre pego a culpa emprestada de alguma barbaridade que eu possa ter feito ou imaginado. Comecei a me perguntar se eu teria dado pontapés nela enquanto dormia, ou se alucinei com alguma garota do passado falando o seu nome. Fiquei no pavor do dilema de chutar algum motivo errado e piorar a minha situação, ou ficar calado e jamais saber o que se passava na cabeça dela.
-Me desculpe - consegui dizer.
-Pelo quê?
-Não sei, queria que você me dissesse... Mas já adianto que não fiz por mal...
-Você nem sabe o motivo e já me pede desculpas...
-Pois é... Acordei e você já estava zangada. Fiquei tentando descobrir o que tinha feito, mas já desisti.
-Eu sonhei que você me trocava por outra... Eu via vocês dois abraçados e não podia fazer nada, e você parecia feliz com ela enquanto eu só chorava e chorava, acordei angustiada e não consegui mais dormir.
-Mas amor, não fique irritada, foi só um sonho.
-Foi muito real pra mim, aquela safada ficava passando a mão em você, me dá raiva só de lembrar.
É, amigos, cuidado com o que elas sonham. Pesadelos não são justos; te privam de escolhas e só te jogam as consequências.

terça-feira, 19 de julho de 2011

4

Previsível...

Discussões entre homens e mulheres sempre são injustas. Já nascem com resultado pré-definido, porque o dito sexo frágil já veio de fábrica com a arma infalível para sobrepujar qualquer argumento: o choro.
Homens não sabem lidar com as lágrimas femininas; os mais centrados até tentam ignorá-las, sem sucesso. É um beco sem saída; se você não se importa, o cerne da discussão muda para a sua insensibilidade, e você não tem mais razão, mesmo se tivesse dominado o debate anterior. Por outro lado, se você se importa, em minutos nem lembra mais do porquê de estar certo ou errado.
Quanto a mim, não suporto ver o choro de uma mulher. Entro em desespero, faço careta, peço perdão, me autoflagelo, dou o que ela quer... Parece que estou tentando contornar um acidente nuclear. 
Bruna sabe como eu sou e, por conta disso, noto que ela faz um esforço sobrecomum para não chorar em nossas eventuais brigas, no intuito de manter um nível racional de argumentação. Infelizmente, nem sempre isso é possível, o que me torna duplamente culpado. Além do motivo trivial, também sou acusado de viciar o resultado. 
Em nossa defesa, peço que repensem o que vocês julgam ser culpa nossa, sob uma ótica mais branda. Mulher sempre tem a mania de hiperbolizar as circunstâncias. Não quer vê-la no domingo com FLA x FLU, logo, não gosta dela. Esqueceu o aniversário de 2 anos e 3 meses de namoro, logo, ela não é importante para você. Nem ouse deixar de falar algo sobre a roupa nova que ela está usando, senão corre o risco dela não querer mais sair por achar que você a vê como o monstro do lago Ness.
Se ao menos nos fosse dada a oportunidade de estar com razão mais vezes, vocês veriam que, no fim, não somos tão maus assim.

sábado, 25 de junho de 2011

1

Mais difícil que parece...

Chegara o sábado e eu não podia mais correr do compromisso de levar o meu filho e seus amigos ao cinema. Ele foi esperto, me pediu no começo da semana, enquanto eu redigia um e-mail no computador. Todo mundo sabe que homem é uma lástima em fazer múltiplas tarefas, por isso acabei confirmando sem perguntar detalhes, no intuito de não perder o ritmo dos afazeres, e desde então, ele tem falado nisso todo dia.
Busquei-os no colégio, após uma reunião de trabalho em grupo; esperava uns 2, mas vieram 5 garotos, barulhentos, alegres, falastrões, me fazendo ter um esforço sobrecomum para organizar todos antes de atravessar a rua. Não sei como os meus avós conseguiam ter 7 a 10 filhos. Sair de casa com essa prole inteira necessitava de um planejamento meticuloso de organização. Sempre tem um que sai na frente, flertando com o perigo, ignorando nossos gritos e tentativas de segurar em suas mãos.
Quando cheguei ao shopping, suspirei, recontei o time e segui adiante, tentando fazer a tarefa o mais rápido possível para chegar em casa e mergulhar no sofá diante de algum filme. Chequei a carteira para ver se tinha dinheiro para seis ingressos, enquanto tentava gerenciar todos os garotos pelo caminho até o cinema. De repente, João, que tinha uns 10 anos, enguiçou. Tentei puxá-lo mas logo ele adquiriu resistência e o peso de uma bigorna.
- O que houve?
- O que é isso?
Me apavorei em imaginar que ele poderia estar sofrendo de algum tipo de amnésia que surgiu justamente quando eu estava cuidando dele.
- Isso o quê? A escada rolante?
- É, eu nunca vi.
- Você nunca veio ao shopping?
- Não nesse... Ela tá se mexendo, se eu colocar o pé eu vou cair.
Uma fila tensa já se formava atrás de nós. Sequer pude impedir os meninos de tirarem sarro dele, pois eu estava beirando a mesma situação. O coloquei nos braços e segui escada acima, já imaginando que os pais desse garoto não deveriam ser muito presentes.
A essa altura, os dedos já estavam apontados, e as gargalhadas soavam ao fundo... E eu não podia fazer muito em relação à gozação quanto à inexperiência de vida, até que João confessou:
- Eu já beijei uma menina na boca.
Todos esqueceram da escada rolante e quiseram saber mais detalhes sobre o feito.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

6

Paciência...

Deixe que a tarde corra
E se esconda nos aromas
Das palavras mentoladas
Pela astúcia do crepúsculo...

Então, deixe que a noite corra
Entre as luzes coadas na janela
Dos meus olhos em tuas curvas
Até a aurora de teu riso...

Portanto, deixe que o dia corra,
E que o tempo escorra, por entre os dedos
Até o vento levar a nossa pressa
E a resina das horas ficar mais espessa...

sábado, 4 de junho de 2011

5

O Rapaz...

Ontem me disseram que você ainda sente minha falta; eu achei que era mentira. Só mais um desses boatos que correm por aí mitigando a depressão pós-término, para tentar fazer a gente se sentir melhor com o próprio ego.
Já eu, não me importo em sair por cima. Para mim, o orgulho não coexiste com a felicidade. Eu nunca quis teu sentimento cativo aos meus pés, tampouco quis ser diminuido ao estar contigo, mas você sempre deu uma importância tão excessiva ao que os outros imaginariam ao te ver com o semblante bobo enquanto lia as mensagens que eu te mandava por celular, ou ao negar aquela saída com as amigas, só para ficar em casa assistindo um filme comigo.
Eu concorria com o mundo inteiro e nem me dava conta. Quando estávamos a sós, eu conseguia te sentir tão focada, como se o mundo girasse ao nosso redor, mas bastava uma ligação de alguém para que eu me tornasse invisível. Aquela suposta prova no dia seguinte, que era usada como desculpa para negar o convite das amigas,era  na verdade uma noite com pipoca e chocolate, entre nós dois.
Tentei te mostrar que em nossa relação, o que vale é como nos sentimos. Quebrava convenções, ignorava regras, ironizava etiquetas, entretanto, nunca consegui transpor essa tua pré-concepção de que o mundo deve girar da forma que a maioria acha correta. Acabei cansando de me doar por inteiro e te ter por metade.
Agora, depois de mais de dois meses distante, vem alguém e me diz que você ainda sente minha falta. Eu prefiro acreditar que é mentira. Prefiro crer em suas frases de MSN e em suas fotos de Facebook, porque, apesar de ainda gostar de ti, a gente só pode dar certo quando você entender que o amor não precisa transbordar aos olhos de todos, pois cabe exatamente dentro de nós.