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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

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Revitalizar...

Bem... Carnaval longe de toda a agitação tão focada na televisão... Me isolei da humanidade, junto a umas 30 pessoas, num lugar onde eu só conhecia uma delas... Pra muitos pode ser um modo careta de se passar o feriado prolongado, mas para mim foram dias de muitíssimo proveito...

O sítio se localiza próximo a Demerval Lobão, em cima de uma serra... Cheguei lá no turno da noite...
Foi interessante o primeiro contato com as pessoas, a calorosa recepção e a noite de brincadeiras e músicas...

Fui dormir próximo às 3 da manhã, e naquele momento, comecei a prestar atenção na paisagem de cima da serra... As incontáveis estrelas que brilhavam no céu azul-marinho e o horizonte que me parecia claro, apesar de faltar mais de duas horas para o amanhecer do dia... Por um momento, me senti no topo do mundo, como se pudesse enxergar o sol iluminando o outro lado, como se a qualquer momento aquela estrela de quinta grandeza fosse inrromper por detrás das mais distantes sombras de montes que minha visão conseguia alcançar, as estrelas sumiriam e tudo seria varrido pela onda de claridade...
Adormeci.

Acordei fitando meu próprio pé e, ao fundo, pude reparar melhor os detalhes da casa; os bancos feitos de troncos de árvore, as palmeiras ornamentais e as árvores que balançavam com a suave brisa... Mudei minha cabeça de posição, na rede, de forma a conseguir ver o penhasco perto do qual eu me encontrava... Ainda era cedo, a neblina deformava os raios de sol que insistiam em tentar cortá-la... Levantei e me espreguicei, enquanto olhava para baixo toda a vegetação, os animais e algumas poças de água... À medida que a névoa ia se dissipando, pude contemplar a beleza do horizonte que mergulhava no brilho solar, enquanto uma parte da vegetação se encontrava sombreada, por estar sob grandes nuvens, que iam se movendo na mesma velocidade que meu cabelo era balançado...
Foi uma das imagens mais inspiradoras que vi em muito tempo... A sensação de poder tocas as nuvens e o sorriso que se formou em meu rosto me acompanharam por toda a eternidade daqueles 3 minutos de concentração e contemplação...

Após o café da manhã, fizemos um estudo bíblico e uma dinâmica interessante... Nos juntamos em duplas com pessoas com as quais não conhecíamos e, vendamos o olho um do outro, de forma a um ficar vendado e o outro ser responsável por guiá-lo, até a hora do almoço... No primeiro dia, eu fui o guia e tentei levar bem a sério toda a "brincadeira"... Tentei guiar da melhor forma possível meu companheiro e serví-lo da melhor forma que pude... A venda só era retirada quando o "cego" recebia seu prato com a comida servida pelo seu parceiro, o que durava umas 4 horas e meia, desde o momento da vendagem.
No segundo dia, foi minha vez de ser privado de um sentido... Nos primeiros momentos, encarei de forma normal, mas quando parei pra refletir, tirei aprendizados que julgo importantes, daqueles momentos... Me dei conta da efemeridade que é a nossa vida e que, muitas vezes, o costume de ter saúde faz com que sintamos, mesmo que de forma inconsciente, um senso de ser inatingível... Percebi que, quando não nos atemos às imagens, captamos bem melhor o que as pessoas dizem, por focar nossa atenção melhor na audição... Aprendi lições de humildade e amizade, ao me ver tão dependente de um sentido e de outra pessoa, que por sinal, cuidou muito bem de mim...
Ao término da experiência, pude tirar a venda, franzir a testa, ofuscado pelos raios solares que inundavam minhas pupilas, e sentir-me feliz ao me deparar com um ótimo almoço servido pelo meu parceiro...

A tarde avançava e o sol se punha nos presenteando com um céu em tonalidades baunilha e azul... Longe das construções, pude olhar ao meu derredor, e me ver cercado por esse céu, como se o sol se pusesse não só ao oeste, mas em todas as direções... Por instantes, me senti no centro do mundo...

A noite ancorou sobre nós, com uma tímida lua por trás das nuvens ora negras, ora prateadas... E nós continuamos a conversar e a nos conhecer, a sorrir e a descontrair, até chegar o momento de partir...
Abracei a todos, salientei o prazer de tê-los conhecido, troquei e-mail e telefone com alguns, ficamos de manter contato... Não sei se continuarei a falar com eles, ou se algum daqueles virá a se tornar um grande amigo, mas uma coisa tenho certeza: essa experiência tão cedo não sairá da minha mente...

Boa semana a todos!

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