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quarta-feira, 4 de junho de 2008

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Serenidade...

Abri os olhos, mas pouco vi. Espanto. Tateei a cômoda à procura de um norte; eram 5:43 da manhã. Aconcheguei-me na volta ao sono, vã tentativa... O sol ainda não nascera, mas as frestas da cortina já anunciavam um céu tingido de azul-turquesa.

Aceitei o fato incomum de não estar com sono àquela hora e recostei-me sobre meus braços, em uma clássica postura reflexiva. A vista ainda embaçada deu lugar a uma audição mais perspicaz. Captei o cantarolar de algum pássaro e nele me deixei levar. Caminhei no tempo, rompi o espaço... Perscrutei vidas que não vivi, sondei amores que não sofri... E fiquei ali, tresmalhado da realidade, até distinguir o fulgor a reverberar na parede. Recalcitrei o comodismo do lençol e, num impulso, pus-me de pé. Abri as cortinas e me deixei abraçar pelos feixes de luz... Pelo ardor daquela flâmula...

A paisagem através da janela era, tecnicamente, a mesma... A urtiga ainda estava lá, os brotos de roseira, os carrapichos e a casa do cachorro... No céu, resplandecia uma mescla azul-amarelada, com os raios de sol saindo por detrás de uma densa nuvem, colorindo suas partes menos espessas.
Ouvi passos provenientes do quarto ao lado.
Começava o dia...



P.S. A fuga da rotina está mais intimamente ligada à percepção das coisas aparentemente cotidianas que às mudanças cognitivas.

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