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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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Plenitude...

Setembro encontrava o seu fim e a neve já dava lugar ao desabrochar preguiçoso das flores. O céu ostentava um branco-azulado, recheado de nuvens pacatas e pacientes a navegar pelo firmamento. Com a respiração acelerada, Heitor pedalava veloz entre os girassóis, no encalço da bicicleta a sua frente. "Laila, me espera!". Tá bem! - respondeu a garota. O vento gélido batia em seu rosto, levando o seu cachecol e o cabelo por baixo de sua touca. As flores amarelas, colhidas mais cedo e depositadas na cestinha da bicicleta, irradiavam quase tanta beleza quanto o seu sorriso, ao esperar o rapaz que arfava compassadamente, aproximar-se. Eles ficaram lado a lado e começaram a pedalar juntos, enquanto suas luvas se entrelaçavam com firmeza.
A grama, agora predominante, os dizia que ali era um bom lugar para se acomodarem. Desceram de suas bicicletas e juntos, cada um segurando duas pontas, extenderam a toalha xadrez que Heitor trouxera consigo. No lago, ainda persistia imaculada, a fina camada de gelo, formada pelo inverno.
Laila abriu a cesta de piquenique e, juntos, começaram a dispor as guloseimas sobre o chão forrado. Enquanto ela organizava tudo da forma que achava mais conveniente, ele permitiu-se apenas observá-la. A pele lisa, as feições delicadas e magras e os olhos negros e penetrantes, emoldurados por um meio sorriso de satisfação por aquele momento. Ao percebê-lo imóvel, Laila sabia que aqueles olhos castanhos a estavam fitando; baixou o olhar e, enrubescida, disfarçou inabilmente o seu embaraço. Ele riu confortavelmente e levou a mão àquele rosto fino. Era um pouco mais alto que ela, de aspecto firme e robusto, apesar de toda a cautela que tinha no agir.
Suspendeu levemente o queixo da garota, até que seus olhares se encontrassem. Beijaram-se docemente e, após reabrirem os olhos, permaneceram se observando, revelando visualmente o que as palavras não precisavam declarar.
Àquela hora, os tímidos raios de sol já tingiam a tarde de um baunilha intenso. O gelo sobre o lago refratava uma gama de cores indefinidas, todas elas maravilhosamente dispostas. Apesar da beleza singular daquele momento, o casal só tinha olhos um para o outro, e até mesmo a natureza haveria de convir que nada poderia ser mais belo que o amor entre os dois.

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