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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

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2008...

A volta de ônibus foi mais rápida, porém mais sofrida... Sentei em um lugar próximo ao tão temido banheiro e, até hoje, não tinha experienciado na pele o porquê dessas poltronas serem tão mal vistas...
No início foi tudo muito bem, me aconcheguei, abri um livro e comecei a ler... Pessoas abriram e fecharam a porta do banheiro umas 2 vezes, mas nada de anormal até aí... Chegamos à uma cidade e logo um vendedor subiu no ônibus... O vi no começo do corredor e, então, o cheiro de milho atingiu minhas narinas... Não era tão ruim, mas sempre tive uma pré-disposição a enjôos em viagens de ônibus, por isso sempre preferi viajar após o almoço... No entanto, o pior aconteceu após abrirem novamente a porta do banheiro. Repentinamente, um odor nauseabundo invadiu o ônibus, mesclando-se ao do milho e me fez ter ânsia de vômito... Pus o nariz sob a blusa e passei a inspirar o ar rapidamente e soltá-lo lentamente, na expectativa do meu nariz logo se acostumar àquele cheiro forte com o qual teria que lidar até a minha chegada em Teresina... ¬¬
No mais, não muito a se relatar... Desci na ladeira do Uruguai, que fica mais viável para me buscarem, que descer na rodoviária em si... Peguei minhas malas e atravessei a avenida rapidamente, enquanto os carros respingavam poças em meus pés e o chuvisco era absorvido pela malha das minhas bolsas e de minha roupa...

Após 6 dias longe de casa, eis que estou de volta ao meu "lar, doce lar"... Acho que sou muito apegado à minha terra e à minha moradia, pois mal podia esperar pra estar de volta... Sentir o cheiro amadeirado do meu quarto, a maciez da minha cama e, até mesmo, a picada dos mosquitos no escritório... Isso sem falar no abraço que eu ia dar no meu pai e, principalmente, no meu irmão caçula...
Sentir aquele corpo comprido e magro, se entrelaçar ao meu, quase sem conseguir me abarcar, enquanto eu o aperto de maneira firme, mas gentil, quase a ponto de abraçar a mim mesmo... Passar a mão nos seus cabelos e o ouví-lo falar da falta que eu fiz, dos primos que o visitaram, enquanto me chama pelo mesmo nome que chamava desde que não sabia pronunciá-lo por conta da pouca idade... Dizer a ele que de todos, foi ele quem me fez mais falta... Dá-lo a lembrancinha que comprei em Parnaíba e reparar atentamente na expressão facial que ele faz ao recebê-la...
Ouví-lo dizer que passou os dias ouvindo as músicas que eu gosto, pra lembrar de mim, e que hoje ia querer dormir no quarto junto a mim, e não no quarto do papai, como costuma fazer... Conversar com ele até ele adormecer (o que não demora muito) e, depois, embrulhá-lo e ficar alí, por uns minutos que nem sinto passar, velando o sono dele, observando a expressão serena que ele passa... A boca entreaberta, o nariz pequeno e redondinho na ponta, os cabelos finos penteados pra cima, e o peito que faz movimentos ritmados durante a respiração silenciosa...
Depois de rir comigo mesmo ao contemplar tal imagem, me despeço com um beijo e digo que o amo, mais que a qualquer outra pessoa... Então apago a luz e saio do quarto tendo o cuidado de não fazer o menor barulho ao fechar a porta.

A distância, mesmo que por pouco tempo, faz-nos valorizar mais as pessoas que amamos...

Vou até a cozinha, sinto o aroma de terra molhada ao passar pelo jardim de inverno, pois chovera mais cedo, checo as portas e abro a dos fundos para ficar um pouco com os cachorros que estão eufóricos... Sento no batente, tento passar uma idéia de calma... O mais velho logo se acalma mas a mais jovem continua querendo me lamber a todo custo, mordendo levemente minha mão e pulando com suas patas enormes no meu torso... Acabo por acalmá-los com um carinho no pescoço e fico alí, relatando meus pensamentos íntimos sobre algumas situações da viagem, para os meus dois "filhinhos", um que me olha com ar sereno e atento e a outra que mexe a cabeça dum lado a outro enquanto seu minúsculo rabo balança tão rapidamente quanto seus verdes olhos mudam de direção... Levanto do batente, os dois levantam também e dou a última passada de mão no pescoço deles antes de trancar a porta...

A distância, mesmo que por pouco tempo, lembra a nós o quanto algumas coisas simples nos fazem tanta falta...

Volto à cozinha, ouço o freezer barulhento se desligando e, de repente, tudo fica silencioso... As pessoas dormem, os cães estão quietos e, naquele momento, somos só eu e a casa... A pedra de mármore, os azulejos da cozinha, os quadros e as paredes da sala com uma ou outra mancha de mãos... Reparo em alguns eletrodomésticos novos que foram ganhos no casamento de meu pai, enquanto me sento no banquinho junto à mesa do jantar... As velhas xícaras estão alí, junto às colheres e facas... Abro o porta-pães e me deixo ser invadido pelo aroma fresco do pão massa grossa que tanto gosto... Ponho o meu café-com-leite, abro a lata de margarina e degusto um jantar relativamente simples, mas tão gostoso como eu não sentia há anos, porque foi uma refeição feita na minha sala de jantar, no meu lar...

A distância, mesmo que por pouco tempo, lembra a nós o quanto o nosso lar é importante...

Então, penso naqueles que não têm um lar, ou uma casa onde possam chamar de lar, que não tem um pão para comer ou um irmão que amam, para abraçar... O novo ano começou, e com ele, as velhas injustiças e o caos social...
Também penso em tantos que não dão o mínimo valor ao que têm... Reclamam da vida que levam, como eu mesmo já reclamei, e são indireta ou diretamente culpados pelas desigualdades... Se torna impossível não pensar em mim como um culpado também, mas isso de certa forma é bom, porque admitir um certo erro é o primeiro passo para mudar nossas atitudes em relação ao mesmo!

Então chegou 2008, e com ele, vários votos, várias expectativas, e o inevitável olhar para o ano que passou no intuito de balancear ganhos e perdas e, graças a Deus, meus ganhos superaram em muito as minhas perdas!

Comecei o ano de um jeito bom... Realçando o valor a ser dado às coisas que temos diariamente, mas que são tão importantes...
Acho que eu sempre fui mesmo de enxergar o copo meio cheio, pois ao invés de reclamar da saudade que passei, a agradeço, por me fazer vivenciar o maravilhoso momento tão cotidiano de acordar na minha cama, fazer minha refeição enquanto olho pros meus familiares e dizer a eles o quanto são importantes para mim!

2008 mal começou e eu já experimentei algo que muitos gostariam de experimentar, ou ao menos de sentir alegria ao fazer...

Definitivamente, esse ano promete...

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