Pages

terça-feira, 15 de julho de 2008

5

Fugacidade...

Perde-se nas linhas de um livro qualquer. Trilha caminhos, anestesia-se com suposições. Apega-se a um personagem e odeia-se por chorar com qualquer situação romântica, por querer tê-la para si. Mescla a fantasia literária com algum idealismo adormecido em seu íntimo; sente frio na barriga, arrepia-se, ri, e vislumbra a si mesmo em alguma época merecedora de suas ilusões.
Se diz realista, cético, mas teme amar por metade, ou não ser amado por inteiro. Sempre cria expectativas. Idiota(!). Conjectura tempestades e transborda devaneios, mesmo sobre a vibração mais ardil da superfície do mar.
Sente-se ínfimo ao refletir sobre si. Sempre ajuda a todos, nunca está por baixo, tem as sacadas mais geniais para os momentos menos proveitosos. Que vitupério não conseguir ajudar a si mesmo! Sente pavor a se dar conta disso. Evita falar com amigos, conhecidos, desconhecidos, dá uma desculpa qualquer... Acha que está estampada em seu rosto toda a sua efemeridade, suas incertezas, e até a dor quase despercebida que fisga o seu coração.
Não consegue concatenar uma idéia sequer, mas prefere emudecer em gritos introspectivos e manter uma postura insigne, que desmoronar sob escombros do que outrora fora a sua personalidade firme e inexorável. Decide dormir, mesmo sabendo que não vai conseguir pregar os olhos. Ensaia algum discurso funesto afim de convencer as paredes do quarto de que confessou-se com alguém; adora ser dramático e odeia ser visto como coitado, talvez por isso tenha idiossincráticos espasmos de arrepio ao conversar consigo mesmo, como num diálogo do id com o superego, onde prevalecem insultos e admoestações de um para com o outro.
Amanhã será um novo dia, ele sabe. Adormece. A luz que ele esquecera acesa incita o revérbero das lágrimas que descem com o derradeiro fechar de pálpebras, levando consigo a dor e renovando a esperança de um novo amanhecer...

5 comentário(s):