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quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Êxtase...

Tinha gasto horas pensando em subterfúgios para não se submeter àquele silêncio mortificante. Nunca fora de poucas palavras, sempre com observações pertinentes a ressaltar, mas nada lhe vinha à mente naquele momento. Seus olhos fugazes liam todo o rosto dela, mas jamais se detinham em seu olhar. Ela tinha um rosto tenro e compreensivo, com lábios finos, nariz adunco e olhos penetrantes, que passavam toda a segurança que ele jamais sonhara em ter. "Olhe para mim." - Disse ela.
Ele reuniu toda a contenção e discrição na tremulidade de suas retinas, e a encarou. Sentiu-se vulnerável perante aqueles olhos negros, que ele jamais cogitara decifrar. Aproximou-se lentamente, na plenitude daquele silêncio, e a beijou. Fechou os olhos e permitiu-se apenas ser embebido em sensações e movimentos não comedidos. Sentiu o rosto dela, cálido, enquanto sua mão fria e tensa a acariciava. Foi um beijo longo e afável, com cada roçar de lábios se estendendo até a iminência do fôlego dos dois. Ele encostou a testa na dela e permaneceu com os olhos fechados, talvez por saber que ela os estaria fitando, ou simplesmente para digerir tudo que ocorreu na eternidade veloz daquele minuto. Abriu os olhos, procurando esconder-se. "Olhe para mim." - Repetiu ela. Ele então afastou o seu rosto do dela, apoiou a mão em seu delicado pescoço e, com a audácia que não conhecia possuir, a olhou diretamente. Ela, talvez surpresa pela firmeza daqueles olhos ou pela satisfação daquele momento singular, sorriu. Não emitiu qualquer som, apenas arqueou as extremidades daquela pequena boca e irradiou um sorriso sincero e puro, como se vê nas crianças ao ganhar um algodão doce.
Ele sentiu o brilho nos próprios olhos e não soube definir se provinha de si mesmo ou se era apenas um reflexo da maravilha daquele sorriso. Limitou-se a retribui-lo, enquanto ela recostava a cabeça sobre seu ombro.
Ele a envolveu com os braços em um encaixe perfeito. Um aroma amadeirado o afetou. Ele inspirou profundamente e percebeu que emanava dela, aquela essência que mesclava bergamota, almíscar e madressilva, tão suave que, até então, ele só a tinha percebido inconscientemente.
A penumbra arbórea os fundia em uma única sombra; calados, abraçados, num silêncio entrecortado apenas pela ritmia da respiração de um junto ao ouvido do outro, ignorando o farfalhar das folhas que aleatoriamente caiam no chão.

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