O garfo arranhava o prato translúcido e azulado, enquanto eu degustava lentamente uma rabanada remanescente da virada do ano. Na pia que desenhava um "L" ao encontrar-se com os azulejos indefinidamente coloridos da cozinha, descansava uma tigela que viria a ser preenchida com alguma sobremesa gelada repleta de pêssegos. Era apenas outra noite arejada de janeiro, com o céu espremido por entre as frestas do jardim de inverno e o vento como maestro do farfalhar compassado das plantas. Eliza começava a organizar as camadas de biscoitos e leite condensado quando começamos a conversar; eram palavras distraídas, que flutuavam com facilidade na corrente de ar. Foram encorpando, ganhando formas, e quando não conseguiam mais levantar vôo, apenas caíram salgadas no chão. E ali permaneceram, a sobremesa doce, a lágrima salgada e o meu olhar insípido a procurar por uma reação instintiva e sensata.
Então eu pude perceber que as lágrimas não são sinais de fraqueza, e sim vestígios de uma relação intensa, e que a morte e a perda podem ser aceitas, e até superadas, mas as coisas jamais serão as mesmas. Porque nós, humanos, temos uma aguçada mania de hipótese. De viver como se nunca fossemos morrer, mesmo que essa seja a maior certeza que possuímos. Talvez seja isso o que faça tudo valer à pena: a intensidade, o apego. Aglomerar momentos marcantes e situações memoráveis, isso sim é eterno. É o que nos permite imaginar os quão melhores e mais especiais seriam algumas circunstancias que vivemos sozinhas, se 'aquela' pessoa estivesse conosco.
Um afago na cabeça, e os mensageiros dos ventos ressoaram qualquer melodia reconfortante. Permanecemos algum tempo sem palavras, a pescar lembranças. Eu pensando duas semanas à frente e três anos atrás, e ela em um tempo que não consigo esclarecer... Cada um ao seu modo, relembrando momentos incrustados nas paredes da memória.
Então eu pude perceber que as lágrimas não são sinais de fraqueza, e sim vestígios de uma relação intensa, e que a morte e a perda podem ser aceitas, e até superadas, mas as coisas jamais serão as mesmas. Porque nós, humanos, temos uma aguçada mania de hipótese. De viver como se nunca fossemos morrer, mesmo que essa seja a maior certeza que possuímos. Talvez seja isso o que faça tudo valer à pena: a intensidade, o apego. Aglomerar momentos marcantes e situações memoráveis, isso sim é eterno. É o que nos permite imaginar os quão melhores e mais especiais seriam algumas circunstancias que vivemos sozinhas, se 'aquela' pessoa estivesse conosco.
Um afago na cabeça, e os mensageiros dos ventos ressoaram qualquer melodia reconfortante. Permanecemos algum tempo sem palavras, a pescar lembranças. Eu pensando duas semanas à frente e três anos atrás, e ela em um tempo que não consigo esclarecer... Cada um ao seu modo, relembrando momentos incrustados nas paredes da memória.
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