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domingo, 21 de junho de 2009

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Rotina...

Te ver assim dessa forma sempre foi uma covardia. Você se esgueira pelo vão da porta, com aquele olhar de quem está prestes a destruir, mas nunca dá o primeiro passo. Me observa, observa, e vira as costas como quem não liga a mínima, mas eu aposto que fica contando os segundos para se sentir surpreendida com os meus sussurros ao pé de ouvido que, não fossem pelas palavras ditas ou pelo tempo de espera, já nem seriam mais surpresa. Arqueia um riso e se afasta com o desejo estampado na boca, e eu sempre acabo sucumbindo a te lisonjear mais do que o seu ego necessita. Sempre me pergunto se é mesmo paixão ou se para você tudo não passa de um ensaio no intuito de satisfazer a si mesma, esse jogo de desdenhar as minhas sonatas só para não me deixar saber se ao menos consigo acertar um dos acordes do teu coração.
Eu, que sempre tive o mau costume de pensar demais, termino por decidir a livrar-me dessa situação de uma vez por todas, mas todas as vezes que te procuro com aquele ar de vão filósofo, você me cala com um beijo estalado que embaralha todo o raciocínio que eu tive na noite anterior. Eu afasto, você me segue até o vão da porta, e eu sussurro no teu ouvido coisas que nem sei se sinto, mas sei que gostas de ouvir. Me empurra enquanto nos despimos apressados e encrava as unhas nas paredes dos próprios gritos durante os momentos nos quais me devora com o olhar. E tudo que eu pensava há pouco já não faz tanto sentido quanto aquele mundo louco e embaçado de cardamomo, âmbar, jasmim e libido.
Então apenas me devore. Me degluta com teus braços e me sorva com a tua boca. Me devore não apenas por reação, mas por iniciativa; puxe meus cabelos e mastigue meu queixo enquanto eu fecho os olhos do meu interior para ignorar as dúvidas que me devoram por dentro, porque no fundo, talvez tudo o que eu queira é ser consumido por você.

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