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quarta-feira, 15 de julho de 2009

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Contrição...

Das sendas que percorri em minha vida, talvez no íntimo eu já soubesse que alguma delas me levaria a olhar paredes rebocadas iluminadas por um sol quadrado. No vão de toda aquela comemoração por coisas que me pareciam valorosas, preenchi o vazio com vinho barato e mulheres que juravam amor de pernoite, mas sempre que adormecia, sentia que a única coisa que ainda estava lá era a solidão.
Agora que a guerra acabou, vejo que aquelas batalhas não trouxeram nada de bom, e o empenho revolucionário só acumulou mortes sobre meus ombros e vácuo entre minhas entranhas. Vontade por vontade, o melhor teria sido engolir palavras e gestos, e apenas viver despercebido uma vida pacata, criar filhos e gado, jogar dominó sexta à noite com amigos e comer coalhada pela manhã.
Todavia, agora, que aquela corda me espera, vou ter que me contentar em ser amigo de ratos e baratas, roer unhas para passar o tempo e pensar no que poderia ter sido, e não foi. Empregar-me-ei em escrever algo e, se me derem direito a dizer algumas últimas palavras, talvez eu ainda consiga passar uma única instrução correta aos pelotões que ainda ouvem o meu comando, e, talvez, não virar mártir de uma causa perdida, gerando mais violência em lutas nas quais se é derrotado, mesmo quando se vence.
Então, talvez eu possa ter minha redenção nas páginas dos livros de história, como a maioria das pessoas boas ou ruins, das quais se falam mais após suas mortes, nas palavras de alguém que preferiu anunciar o erro de uma caminhada longa e tortuosa, ao invés de empertigar-se na refinada merda da glória.

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