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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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Ludovico...

Sempre tive uma admiração oculta por você. Deve ser por eu sempre me perder em tuas curvas tão bem projetadas. Não, não é isso. Meu desnorteio já é tão comum que nem me causa mais surpresa, porque após o longo tempo sem te ver, costumo ficar com a impressão de uma mudança drástica em você, quase um renovo que te faz cada vez mais esplêndida. Nunca quis assumir nossa condição, mas creio que sejamos amantes no fim das contas. Aliás, eu sou o seu amante, porque você contenta-se com o amor de si mesma, através do tempo e dos amores de tantos outros. Afaga o meu cabelo e me beija com teus lábios salgados. Rouba meus suspiros e até me faz ouvir pagode e samba de raiz. Todo mundo sabe que eu não sou fã de pagode, que eu tenho essa pose de quem toca piano e só ouve música clássica; mas contigo, ouvir pagode me evoca uma nostalgia serena, da infância bem aproveitada, das piadas velhas e a simplicidade da inocência.
Naqueles dias a vida caminhava sem pressa e a rotina não fazia as pessoas terem vontade de desistir da própria existência. Todos os dias pareciam uma manhã de domingo, todas as conversas pareciam uma anedota bem contada e todas as refeições pareciam uma reunião familiar. É isso. Minha admiração por ti vem da forma como me sinto quando estou contigo. Mesmo com esse teu corpo novo, a tua essência continua a mesma. Receptiva, brincalhona, nostálgica e cativante.
Não me interprete mal, querida. Eu amo a minha esposa, de verdade. Ela é calorosa, plácida, bela, afável, e quase consigo entendê-la por completo. Mas você, ilha, sempre surge com essa mania de lamber meu rosto me fazendo ansiar por nossos encontros de fim de ano. Espero que, algum dia, eles se tornem tão frequentes quanto os dias em que penso em estar contigo.

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